O dia em que me chamaram Perna de Pau
Infelizmente nos últimos dias o meu psicológico não esteve nas melhores condições o que me levou a estar afastado aqui do blog, porque a minha única vontade era de pegar fogo a algumas pessoas, o que convenhamos não é muito bem visto na sociedade e só é vantajoso se o nosso sonho de vida for o de protagonizar um alerta CMTV.
Como sabem fui submetido a duas operações no espaço de um mês à coluna e obviamente que é algo que, queiramos ou não, nos deixa um pouco mais sensíveis. Mas apesar de eu ser pessoa que demora duas e horas e meia a decidir onde jantar, quando foi das operações fui muito pão pão queijo queijo. Se é para operar é para operar. E se é para recuperar é para recuperar, porque não é estar a chorar num canto que vai melhorar alguma coisa. Se me apeteceu chorar muitas vezes? Apeteceu e chorei, mas sempre tive em mente que uma atitude positiva e um bom estado de ânimo ajudam imenso numa melhoria. Por isso é que quando entrei na enfermaria pela segunda vez o pessoal até se questionava se eu tinha sido realmente operado. E quando voltei à fisioterapia, com um pé totalmente pendente e sem força para nada, deram-me os parabéns por ter uma atitude tão positiva.
A verdade é que eu me obrigo a ser positivo. Primeiro porque me faz imensa comichão que as pessoas olhem para mim como um coitadinho. Se for para me darem prioridade na fila do Continente tudo bem, de resto dispenso os olhares de comiseração. Em segundo porque na verdade eu tenho uma limitação, mas não estou limitado. Consigo andar, sair de casa, ir jantar a um restaurante ou fazer uma atividade leve (ou seja, nada de jogar voleibol na praia, mas garanto-vos que se for vólei na piscina dou uma coça a meio mundo). Infelizmente há pessoas que estão bem piores que eu, por isso tenho que, mesmo que esteja frustado com esta nova condição que não sei se será temporária, agradecer pelas boas coisas que tenho na minha vida.
Agora de certeza que uma das boas coisas que eu tenho na vida não serão pessoas que perderam toda e qualquer noção de senso comum. Na sexta-feira fiz questão de ir a uma confratenização do emprego, porque decidi que iria manter a minha vida o mais semelhante possível à minha vida pré-operação. Como abdiquei da baixa, visto ter a possibilidade de durante a recuperação fazer teletrabalho, não senti que estava totalmente desligado do trabalho (pronto, confesso que adoro sentir-me útil e o trabalho preenche uma grande parte desse sentimento), e queria que a minha vida social também não fosse pelo cano abaixo. Por isso aperaltei-me e com o meu foot-up colocado, lá fui jantar.
Descobri da forma mais cruel que as pessoas acham que por tu estares num evento é porque não deves ter nada assim de muito mau, e que se calhar até estás a fazer um bocado de fita na verdade. Porque se estivesses mal estavas em casa sem te mexer durante um mês com uma cinta colocada, a sobreviver da caridade de um vizinho que te levasse sopa uma vez por dia certo? Ora com este tipo de pensamento eu até consigo lidar razoavelmente bem, mas as piadinhas deixaram-me no lodo. Dizerem que parece que me estou a arrastar? Ou que vou para a tropa? Ou que sou Perna de Pau? Ok, posso admitir que estou um bocadinho mais sensível, mas é normal as pessoas acharem que podem fazer piadas do tipo "ah eu vou dançar se o João for!" (só para saberem, o João levantou-se e foi....não diria dançar, mas abanar o corpo, algo que já fazia antes da operação visto ter nascido com dois pés esquerdos)?
Eu não acho normal, até porque é impossível nesta fase a pessoa não se sentir abalada ao pensar que talvez nunca mais volte a ter a mobilidade que tinha. Que nunca mais vai correr. Ou saltar. Ou fazer um passo de break dance e competir nos Jogos Olímpicos. Claro que eu tenho o foco e a esperança que vou recuperar o máximo possível e voltar a poder fazer tudo e um par de botas. Mas talvez não possa. E viverei com a minha nova realidade. Mas dispenso piadinhas de mau gosto. As únicas piadas admitidas são as que eu fizer sobre mim mesmo, porque servirão para espiar uma tristeza que muitas vezes não se quer calar.
E já agora gente que acha que Perna de Pau é um elogio: da próxima vez estejam calados e comprem-me é um Perna de Pau maxi, que é só o meu gelado preferido, porque convenhamos, não há nada melhor do que lamber aquelas riscas de morango! E a minha língua não ficou afetada com a operação