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100 coisas a fazer antes de chegar aos 100 anos!

Uma fusão de bucket list a atirar para o futuro com um grupo de memórias desgarradas do passado e um polvilhado aleatório de acontecimento do dia a dia.

100 coisas a fazer antes de chegar aos 100 anos!

Uma fusão de bucket list a atirar para o futuro com um grupo de memórias desgarradas do passado e um polvilhado aleatório de acontecimento do dia a dia.

Quem matou a Laura?

João Eating the World!, 02.01.25

Ver 100 filmes que tenham estreado antes de 1986 (o ano em que nasci) [1/100]

Quando era mais novo era assim ligeiramente gastador, facto facilmente explicável por ter um salário simpático e viver em casa dos meus pais, ou seja, zero de despesas. Uma das minhas atividades favoritas depois do trabalho era ir à FNAC e deixar o cartão de débito assado, comprando tudo e mais alguma coisa que estivesse em promoção, porque na verdade quem é que consegue resistir a uma bela promoção?

Diria que o momento de mudança para mim foi quando estava a comprar um creme como prenda de aniversário e o meu cartão deu "Não Autorizado". Quando fui confirmar ao multibanco e descobri que tinha uns míseros 3 euros de saldo decidi que tinha de ser mais contido financeiramente, e toda uma transformação se deu. Digamos que quem me conhece hoje em dia, sabendo que sou assim a atirar para o fuinha, teria dificuldade em acreditar que já andei a esbanjar euros como um menino grande.

Uma consequência da minha saga de compras impulsivas foi ter ficado com o quarto na casa dos meus pais repleto de coisas que nunca sequer abri, na esperança de que o conteúdo me entrasse no cérebro via osmose. Mas como nunca é tarde para acarinhar as aquisições do passado, decidi começar pelo visionamento dos filmes acumulados numa estante (sem pó, que a minha mãe nisso não brinca em serviço).

O primeiro que me veio à mão ainda tinha o plástico original a revestir a caixa do DVD, tendo sido comprado no maravilhoso ano de 2011.. Trata-se de Laura, um filme noir de 1944, realizado por Otto Preminger e onde literalmente brilha Gene Tierney (tudo gente que eu não conhecia, mas uma pessoa não morre inculta).

Se gostarem de thrillers Laura é o filme para vocês, porque a última vez que eu vi tantas reviravoltas em tão pouco tempo foi quando decidi passar 5 minutos da minha vida a olhar para a máquina de lavar roupa. Afinal quem matou Laura? A tia? O futuro marido? A criada? Ou foi uma conspiração levada a cabo pelos vendedores de castanhas?

Outra coisa boa deste filme é que não há cá encher chouriços, mal o filme começa é logo a desbravar caminho e é sempre tudo em ritmo acelerado, o que faz com que uma pessoa tenha de estar um bocadinho mais concentrada e não possa estar a fazer scroll no Instagram ao mesmo tempo.

Por fim, e podem-me chamar velhote de 95 anos que acha que antigamente é que era bom, é refrescante ver um filme onde existe um claro teor de sedução sem haver necessidade de as pessoas estarem todas nuas a balançar pedaços do corpo na cara dos outros. Nada contra quem faz, que hoje dia a nossa liberdade é mesmo para isso, para fazermos o que nos der na gana, mas acho que existe alguma beleza na imaginação da antecipação, e Laura conseguiu fazer com que todos se apaixonassem por si, mostrando não mais do que um ombro.

Quem matou a Laura?

Eu queria dizer que não....mas não consigo!

João Eating the World!, 01.01.25

Visitar mais de 100 países [1/100]

Este ano decidi que ia fazer uma semana de férias em dezembro, para visitar Mercadinhos de Natal por essa Europa Central fora. Não é que eu seja a pessoa que vibra mais com o Natal, mas para mal dos meus pecados sou amantizado com uma pessoa que ADORA o Natal, por isso não tive muita capacidade de dizer que não após ser brindado com uns olhinhos à Gato das Botas.

Claro que os planos iam indo por água abaixo com a minha segunda operação que me deixou com a mobilidade reduzida, mas tendo em conta que a primeira operação me fez cancelar a viagem ao Sri Lanka, eu só pensei "Not this time Satan, not this time", e insisti que ia fazer a viagem. Claro que havia o risco de apanhar gelo e me matar aos primeiros cinco passos, ou de ter um tromboembolismo venoso durante a viagem de avião, mas consultei uma amiga médica, muni-me de umas meias de compressão e rezei a todos os santinhos que conhecia e lá fui eu, pronto a ser bombardeado com o espiríto natalício.

Talvez possam achar que o título deste post é referente à minha incapacidade de dizer que não ao Cara-Metade, mas a verdade é muito mais dolorosa. Quando cheguei ao avião, descobri que havia uma pessoa à janela, um lugar do meio vazio, e depois eu sentado estrategicamente ao pé do corredor para poder me levantar e esticar as pernas. O Cara-Metade tinha sido enviado para o fim do avião a vinte filas de distância, tal como é costume as companhias low-cost fazerem, mas depois de 10 anos juntos achámos que não era um par de horas separados que nos ia matar, por isso cada um foi à sua vida. E eu só pensava - aaaaaaaahhhhh, espaço minha nossa senhora.

Infelizmente a minha alegria foi de curta duração, porque o último passageiro, um senhor ainda mais alto que eu (que já tenho 1.87) visivelmente embriagado (e que passou a viagem toda a beber whisky ou coisa parecida) espremeu-se ao meu lado. E um minuto depois começou a fazer conversa com o rapaz da janela. Nesse momento todas as luzinhas vermelhas se acenderam dentro de mim, porque apesar de ser pessoa minimamente sociável, estava com vontade de fazer a viagem apenas com os meus pensamentos. E quem me conhece sabe que se alguém meter conversa comigo eu não consigo dizer que prefiro não entrar em diálogo, como uma pessoa assertiva faria.

Durante alguns minutos vivi na ilusão de que estava safo, que o rapaz da janela seria ainda mais fraco que eu e entreteria o conversador do lugar do meio durante a viagem toda, mas trinta minutos depois todas as minhas esperanças desvaneçeram-se. Eu lá no fundo queria dizer que não, mas não consegui, e durante uma hora inteira soube da vida toda do meu companheiro de viagem, com direito a todo um slide show de fotos. Vi fotos dele, da família, das paisagens da Eslováquia onde ele vivia, da namorada portuguesa - a Paulinha - e da viagem que eles tinham feito pela neve apesar de aparentemente a relação já ter visto melhores dias, das maçãs que ele apanhava para dar aos vizinhos, dos pickles de cogumelos que ele fazia para o ano todo....senti-me verdadeiramente como se tivesse sido raptado para um programa qualquer do Discovery Channel.

Até que decidi deixar de estar embriagado passivamente (o bafo de álcool do senhor era suficiente para fazer uma marinada das potentes) e levantei-me para ir à casa-de-banho e desenhar um plano de fuga. Na verdade foi bem simples, passou apenas por perder a vergonha na cara e quando me voltei a sentar já tinha uns fones nos ouvidos a bombar a Ampulheta da Ana Malhoa em volume máximo, o que se mostrou extremamente eficaz.

O resto da viagem até Viena passou-se com o senhor a voltar a atacar o rapaz da janela, enquanto eu implorava ao universo que ele não tivesse a audácia de pedir para ouvir música comigo (algo a que eu provavelmente diria que sim). Quando o avião pousou em terras Austríacas libertei um suspiro profundo, desejei com um grande sorriso o resto de uma boa viagem ao meu companheiro - eu sou um falso eu sei! - e só pensei se ainda conseguia apanhar algum mercado de Natal aberto para beber um vinho quente e afogar as mágoas...

Mercados de Natal - Viena