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100 coisas a fazer antes de chegar aos 100 anos!

Uma fusão de bucket list a atirar para o futuro com um grupo de memórias desgarradas do passado e um polvilhado aleatório de acontecimento do dia a dia.

100 coisas a fazer antes de chegar aos 100 anos!

Uma fusão de bucket list a atirar para o futuro com um grupo de memórias desgarradas do passado e um polvilhado aleatório de acontecimento do dia a dia.

Que mal te fiz eu, para não ter um piaçaba?

João Eating the World!, 03.02.25

Hospedar-me em 200 hotéis [1/200]

Existem perguntas a que um ser humano passa toda a sua vida a tentar responder. Qual é a razão para que viemos a este mundo? Será que existe uma entidade divina que olha por nós? Estaremos cada vez mais sós num mundo com cada vez mais pessoas? Quais são as diretrizes éticas pelas quais devo reger a minha conduta?

São todas questões extremamente pertinentes, e que muitas vezes nos podem arremesar para um caos existencialista que só se resolve com uma cura de sono e duas caixas e meia de alprazolam, mas a dúvida que me assola é muito mais profunda. Muito mais inquietante. Algo que me faz acordar durante a noite com o coração a bater desenfreadamente e a boca tão seca como um litão exposto ao sol por três dias. O que eu ainda não consegui perceber nestes meus 38 anos de vida é porque raio alguns hotéis não possuem piaçaba!

Não é o primeiro, não é o segundo, não é o terceiro hotel onde eu fico hospedado que não possui esta escovinha maravilhosa. E eu fico sem compreender se é o hotel que se preocupa em demasia com outras coisas, como as miniaturas de gel de banho e os pacotinhos com o kit de emergência para a costura, e se esqueçe do piaçaba, ou se na verdade não era suposto precisarmos de o usar e eu é que ando a fazer cocó errado este tempo todo.

Confesso que não faço ideia se existe um protocolo quando estamos a fazer o número 2, além de fechar a porta e não convidar mais ninguém para a casa-de-banho para evitar uma morte por intoxicação. Mas a verdade é que depois da descarga o meu vaso sanitário nunca fica imaculado, sendo que em casa preciso de dar uma boa esfregadala para ele ficar adequado para uma próxima utilização.

É verdade que quando não existe piaçaba, mas existe mangueirinha, uma pessoa remedeia-se, que dá uma mangueirada no rabo e outra na sanita, mas por vezes não é suficiente, especialmente quando as marcas de guerra ficam no fundo da sanita. Aí, usar-se a mangueirinha é basicamente chover no molhado. Agora há casos em que nem mangueirinha existe, e uma pessoa fica a pensar como raio é suposto higienizar o nosso trono de porcelana.

Já dei por mim a fazer autênticos contorcionismos com o chuveiro do duche, que exige que a bicha seja suficientemente comprimida para chegar à sanita, e que uma pessoa consiga ligar a torneira no momento exato em que está a apontar o jato de água para o local onde previamente estivemos sentados, já que de outra forma é meio caminho para se inundar a casa-de-banho. E claro que implica também que depois da lavagem uma pessoa volte a contorcer-se para fechar a torneira sem que tenha água arremessada para o tecto, para as paredes, para o espelho...

Mas com mangueirinha ou com o chuveiro do duche, continua a subsistir o problema das impressões intestinais pós-defeção. Alguns pensarão, ah deixa isso para a equipa de limpeza do hotel tratar. Pois bem, eu consigo viver com estranhos a julgarem-me pelos restos de ADN que deixo na cama, mas saber que um estranho pode estar a torcer o nariz com repulsa no momento em que levanta a tampa da sanita é demais para a minha sanidade mental. Por isso é que já dei por mim a fazer uma almofadinha de papel higiénico, a respirar fundo e a pensar que não vou tocar em nada que já não tivesse feito parte de mim, e zuca, enfio a mão dentro da sanita e uso a almofadinha de papel como se fosse uma esponja de limpeza. Sim, é possível que seja nojento. Sim, muito provavelmente está a contribuir para alimentar um qualquer trauma com que vou ter de lidar aos 80 anos. Mas não sei resolver de outra forma e não me parece prático andar com um piaçaba portátil na bagagem de mão.

É por isso que quando cheguei ao Marea Boutique Hotels em Sliema, o hotel onde fiquei em Malta, senti a minha alma a ser dilacerada. Podem-me julgar, mas sou pessoa de rabo tímido, e não consigo evacuar num avião. E se der para evitar, fazer na casa-de-banho do aeroporto também é algo que não gosto muito, porque uma pessoa sabe lá o que pode apanhar a sentar-se num sítio onde tanto cu já se roçou. Por isso quando cheguei ao hotel o meu intestino estava a gritar de desespero, e a primeira coisa que fiz quando entrei no quarto foi correr para a casa-de-banho. Se todo um alívio se apoderou do meu corpo enquanto outras coisas saíam, rapidamente ele foi substituído por pânico, porque não havia sinais de piaçaba. E pior, não havia mangueirinha e a distância entre o chuveiro e a sanita era demasiado grande.

Foi no momento em que já estava prestes a chorar baba e ranho, perguntando aos céus que mal tinha feito eu para não ter um piaçaba, quando de repente encontro o mesmo, escondido num cantinho, a tentar passar despercebido certamente para não ser utilizado. Fico com um sorriso gigante estampado no rosto. Afinal já não ia precisar de passar as férias todas a enfiar a mão dentro da sanita...

 

Marea Boutique Hotels - Sliema

 

DIE - Dark Immersive Experience ou Dark, Intense and Erotic?

João Eating the World!, 02.02.25

 Visitar 20 espetáculos interativos de terror [1/20]

Uma das minhas maiores virtudes, e que muito me alegra dar destaque central em qualquer CV, é o facto de ser teimoso como uma porta, mas uma daquelas portas empenadas e chiadoras. Acho que me dá carácter e um toque irresítivel de charme, além de me tornar numa pessoa impossível de lidar quando imbico numa direção. Por isso é que quando, poucos dias após a minha segunda operação à coluna, decidi ir ao DIE - Dark Immersive Experience, a nova produção do Projeto Casa Assombrada, não houve quem me conseguisse demover.

Em minha defesa já tinha recebido o bilhete há imenso tempo porque era a prenda que tinha pedido para o meu dia de aniversário, e não era a porcaria de uma hérnia e de um pé de abano que me iam condicionar a celebração dos meus 38 anos. Mas como, de vez em quando, sou uma pessoa consciente, falei primeiro com o pessoal fofo do Projeto Casa Assombrada e perguntei se não haveria obstáculos no caminho porque depois da cirurgia tinha ficado com dificuldades de locomoção e um equilíbrio periclitante, e se por um lado não me queria esbardalhar todo no meio do percurso por outro também não queria estragar a experiência do pessoal que estivesse no meu grupo.

E foi neste momento que eu me devia ter lembrado que o mundo é um local muito subjetivo, e o que é uma refeição maravilhosa para uns pode ser dois dias sentados na sanita para outros. Ah e tal, que não vai haver problema nenhum, que não existem obstáculos no caminho, que como a experiência é totalmente às escuras agarrado a uma corda o percurso também é atravessado muito devagarinho, que posso vir sem problema algum. Quando cheguei voltei a referir que estava manco, e disseram-me que até já tinham tido uma pessoa só com uma perna a fazer a experiência, o que me fez pensar que pronto, eu estava mais parecido com a minha mãe do que queria admitir e estava-me a preocupar em demasia.

Sejamos honestos, não me arrependi nada de ter ido e voltava a ir sem pensar duas vezes, mas desde quando é que ter de atravessar um túnel de gatas não é considerado um obstáculo? Ou uma pessoa ter que no meio do escuro se sentar e voltar a levantar agarradinho aos colegas de corda é algo fácil para quem não sente metade da perna? Ou ser arremessado para outra sala por um membro do staff por estar a andar em velocidade de caracol é exequível para quem não consegue correr? A minha sensação é que o percurso era para ser feito com uma perna às costas, por isso nem quero pensar como é que foi a experiência para a pessoa que só tinha uma...

A permissa do DIE era a de ser a primeira experiência imersiva em Portugal com áudio a 360º, onde a pessoa vai ouvindo uma história e recebe ordens enquanto se tenta orientar na escuridão total através de uma singela corda, assim meio áspera para mãos de donzela como as minhas, e pelo meio é confrontado com pessoas a pregarem sustos e a tentarem soltar-nos gritos das entranhas. Ora a premissa era fantástica, mas o facto dos auriculares terem uma luz azul fazia com que uma pessoa não estivesse verdadeiramente na escuridão total, o que se por um lado para mim foi fantástico porque me aumentou logo o equilíbrio, por outro acabou por tirar alguma da piada àqueles 30 minutos passados num complexo do Nirvana Studios.

Se não quero deixar de referir que fui sozinho (o Cara-Metade odeia este tipo de coisas) e acabei por ficar num grupo de pessoal que se foi conhecendo neste tipo de atividades e até me convidou para o grupo de WhatsApp, o que eu quero dar destaque é ao facto do DIE ter sido para mim mais intensamente erótico do que verdadeiramente assustador, o que paradoxalmente me deixa um bocadinho assustado. É que aparecerem do escuro e agarrarem-me pelo pescoço enquanto respiravam sofregamente para cima de mim deixou-me mais excitado do que aterrorizado. E apesar de haver pessoas a gritar de pânico por estarem a serem borrifadas com substâncias não identificadas, eu pessoalmente achei super refrescante, tipo férias num resort no México quando estás na piscina e os animadores vem-te dar tequila à boca. Bem sei que nesta fase do campeonato para me arrancarem um grito de terror só atirando-me com uma barata para cima, mas confesso que não estava à espera de descobrir este meu lado assim mais kinky ( terá sido um efeito secundário da operação?). Por isso pessoal do Projeto Casa Assombrada, se um dia o terror deixar de dar dinheiro, podem sempre começar a organizar outro tipo de festas em Lisboa. Eu não me importo de ir, apenas para fazer uma review honesta claro....

DIE - Projeto Casa Assombrada

 

Malta ou uma Chapada nos Pré-Conceitos Idadistas

João Eating the World!, 01.02.25

Visitar mais de 100 países [3/100]

Uma das coisas boas de uma pessoa não ter gozado todas as férias em 2024 é que, quando olha para os dias acumulados que tem para gastar em 2025, fica com uma excitação miúdinha a pensar que vai poder ir a todos aqueles destinos que sempre quis visitar e que ninguém lhe vai por a vista em cima no trabalho. Só que depois essa mesma pessoa lembra-se do ordenado que recebe e o entusiasmo fica assim um bocadinho mais resfriado, mas nada que não se possa contornar passando mês e meio a fazer a fotossíntese e a poupar nas compras do supermercado, ou, no meu caso, a identificar as melhores oportunidades de voos e hóteis.

E foi assim, ao encontrar um voo baratíssimo de ida e volta pela Ryanair, que decidi passar o fim de janeiro em Malta. Sim, eu bem sei que a Ryanair é Low-Cost e tem uma data de limitações, mas tendo em conta o meu orçamento sou muito capaz de prescindir de alguns luxos, e na verdade não é assim tão mau viajar com eles, basta seguir algumas regras de ouro. Primeiro, se viajarem acompanhados, não existe amizade ou amor ou laços familiares que valham os 8 euros que tem de pagar para irem em lugares juntinhos. Eu e o Cara-Metade ficamos separados por umas 15 filas e sobrevivemos às 3 horas de viagem, porque sejamos honestos, o mais provável era passarmos a maior parte do tempo a dormitar ou a olhar para o telemóvel (relação triste sem comunicação eu sei) e se o avião fosse para cair não era por estarmos agarradinhos que nos íamos safar. Assim poupámos um dinheirito que já deu para amortizar parte do valor do cartão para os transportes públicos de Malta que é caro que dói. Em segundo vão prevenidos com comes e bebes, porque os preços dos géneros alimentícios no avião são um verdadeiro roubo à mão-armada. Eu costumo sempre levar umas barritas ou uns frutos secos para o caso de me dar um ratito, e depois de passar o raio-x encho a minha garrafa com água num dos fontanários disponíveis. Em terceiro não sejam somíticos com a bagagem de mão. Normalmente o que eu faço com o Cara-Metade é comprarmos uma mala de mão extra para os dois, sendo que um de nós acaba por ter priority no boarding (ou seja, um de nós passa de pobre para pobre-premium), mas aproveitem esta dica e juntem-na logo que vos aparecer essa oportunidade no site ao fazerem a vossa compra. Se deixarem para o fim, vai-vos aparecer outra vez a oportunidade de juntar uma mala, mas o valor vai ser muito mais alto (pelo menos é o que me tem acontecido). A pior coisa que vos pode acontecer é acharem que estão a poupar uns euros e quando vão embarcar são convidados a verificarem se a vossa bagagem tem as medidas corretas. E caso não tenha, a conta vai ser salgada. Por fim, resistam às compras de impulso. Vão-vos acenar com comida, com perfumes, com raspadinhas!!!, mas o segredo é não fazerem contato visual para não se sentirem tentados a sacarem do cartão e a comprarem o último lipstick da Kylie Jenner.

Mas voltemos a Malta, que foi a razão deste post. Apesar de ter comprado a viagem e reservado o hótel com alguma antecedência, digamos que foi poucas horas antes do voo que me decidi preocupar com alguns detalhes, quiçá, importantes. Por exemplo, qual era o tempo que estava lá, se precisava de passaporte ou se bastava o cartão de cidadão e se por acaso tinha de levar algum adaptador para as tomadas.

Só posso aconselhar visitar Malta em janeiro, porque o tempo esteve fantástico, super agradável, com muito sol, e o número de turistas que andavam pelas ruas era razoável. Claro que o meu objetivo não tinha sido ir fazer praia, mas só de pensar na multidão que deve estar em julho e agosto quase que fico com um ataque de pânico. Outra coisa que gostei foi que começava a escurecer por volta das 17:30, e digo que gostei porque quando estive na Sérvia às 16.30 já era escuro como breu. De Portugal para Malta só precisei do cartão de cidadão, mas não posso deixar de recomendar que levem também o Cartão Europeu de Seguro de Doença. Agora o que me tramou foram as tomadas elétricas. Em Malta as tomadas são do tipo G, ou seja, aquelas de três pinos tal como existem no Reino Unido, por isso ia precisar de levar um adaptador. E a questão é que eu tinha um adaptador, só que a porcaria do bicho não permitia, devido a umas saliências do demónio que não se percebe porque é que lá foram postas, que eu conectasse a ficha do meu portátil, por ser bojuda demais. Ainda perdi uma boa hora a tentar encontrar soluções quando, após já estar suado de nervoso, decidi que ia confiar na sorte e se fosse preciso comprava um novo adaptador na ilha. No entanto os deuses sorriram-me e o hotel tinha uma ficha ao pé da cama que estava adaptada para os pobres europeus que usam fichas do tipo C.

Ora esta minha falta de planeamento, muito ao estilo de go with the flow, fez com que não percebesse que em Malta existem duas línguas oficiais, o Maltês e o Inglês. Por isso imaginem a minha cara quando, ao descansar num banquinho, uma senhora dos seus oitenta anos, mete conversa a falar inglês super correto, super fluido, a usar palavras que eu nem sabia que existiam. O meu primeiro pensamento foi que a senhora devia ter tido um emprego internacional ou coisa do género, porque todos sabemos que o pessoal mais velho não fala inglês, certo? Ou pelo menos é muitas vezes esse pré-conceito que temos na nossa cabeça, que as pessoas mais velhas não sabem línguas, que não conseguem mexer na tecnologia, que não podem fazer desporto e que, uma pessoa benze-se só de pensar, obviamente não fazem sexo e o máximo de interação intíma é um daqueles chochos sem língua. É quase como se nos tivessem implantado a ideia que as gerações mais velhas apenas servissem para jogar ao dominó e ver os programas da manhã.

Pois em Malta não houve idoso que encontrasse que não dominasse o inglês. Na rua, nos restaurantes, dentro dos autocarros, sempre que ouvia uma pessoa de idade a falar inglês ficava assim admirado, como se tivesse levado uma chapada de surpresa no meu pré-conceito idadista que podia jurar a pés juntos que não tinha. Achava eu que era uma pessoa progressista, mas visivelmente ainda tenho muito trabalho de desconstrução pela frente de forma a não considerar, mesmo que inconscientemente, que os outros são limitados só por causa da sua idade. E talvez um dia consiga imaginar, de uma forma natural, que aquela senhora de cabelos brancos, com artroses nos joelhos, que sobe lentamente as ruas com o seu carrinho de compras, ao chegar a casa vai por os pés de molho, colocar creme nas articulações e mimar-se com um vibrador de duas cabeças.

 

Fonte dos Tritões - Valetta