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100 coisas a fazer antes de chegar aos 100 anos!

Uma fusão de bucket list a atirar para o futuro com um grupo de memórias desgarradas do passado e um polvilhado aleatório de acontecimento do dia a dia.

100 coisas a fazer antes de chegar aos 100 anos!

Uma fusão de bucket list a atirar para o futuro com um grupo de memórias desgarradas do passado e um polvilhado aleatório de acontecimento do dia a dia.

Vade Retro SATA(Nás)!

Ou a mais breve viagem de avião da história...

João Eating the World!, 23.03.25

Quando descobri uma viagem de ida e volta por 30 euros, pela SATA, para a ilha Terceira nos Açores, nem pensei duas vezes. Provavelmente deveria ter pensado um pouquinho melhor no assunto, porque apesar do voo estar baratíssimo, uma pessoa depois tem que ter dinheiro para pagar o hotel, e as refeições, e o aluguer do carro para se deslocar...mas como o voo até tinha incluído uma refeição ligeira, senti que umas coisas compensavam as outras, e também quantas vezes é que uma pessoa tem oportunidade de ir à Terceira? Afinal a única vez que tinha visitado a ilha fora há mais de 20 anos, por isso as minhas memórias já estavam para além de desatualizadas e fazia assim todo o sentido fazer a viagem. E foi isso que eu fiz. Ou melhor, foi isso que eu tentei fazer!

Chegado o dia da viagem, e após um ligeiro atraso na partida, eis que me vejo a sobrevoar os céus de Lisboa, rumo ao arquipélago dos Açores. Não tinham passado mais de 10 minutos quando o avião, em vez de seguir rumo ao oceano Atlântico, começa a fazer meia-volta, levando-me a duvidar se tinha havido uma reorganização do território que eu não me tivesse dado conta, e agora a Terceira ficasse no lago do Campo Grande. Mas não, visto que breves momentos depois é anunciado que devido a um problema técnico, que consistia em uma das portas do porão não ter ficado bem fechada, teríamos que voltar ao aeroporto de Lisboa. Naquele preciso instante comecei a entrar em pânico, a imaginar a minha mala em queda livre pelos céus da capital, sujeita a cair na cabeça de alguma alma azarada.... até que me lembrei que só tinha trazido bagagem de mão.

Aterrados em Lisboa, depois da mais breve viagem de avião da história, eis que começa todo o drama. Primeiro é-nos comunicado que iríamos voltar a viajar naquele avião, mas depois só que não, já que era preciso uma inspeção de pelo menos duas horas, o que não me fez muito sentido porque se o problema era uma porta da bagageira aberta, não era só fechar a mesma? Depois comunicam que vai haver um voo da TAP a voar para a Terceira no fim do dia e que poderão levar algumas das pessoas, mas não referem qual o critério de escolha! Sorteio? Cor dos olhos? Melhor sorriso para os hospedeiros? Caso fosse o preço do bilhete não teria qualquer hipótese de ser selecionado, tendo em conta os 30 euros que tinha pago. Depois de um bom tempo de espera começam a chamar pessoas, tipo bingo humano. Umas duas dezenas de pessoas arranjam bilhetes, as outras desgraçadas ficam ali sem saber bem o que se vai passar.

Mais tempo de espera. Mandam as pessoas fazer uma filinha sabe-se lá para que. Depois de toda a gente em fila dão ordem para irmos para a zona das bagagens, recolher as ditas cujas. Vai tudo ao monte, já que andar em filinha é coisa que se faz no máximo até ao quarto ano. Ficamos à espera que venham as bagagens que estavam no porão. Aparentemente não falta nenhuma, o que significa que não vai haver nenhum alerta CMTV sobre um chuva de cuecas e meias no Parque da Saúde. Esperamos mais um bocado. Ainda ninguém nos ofereceu um copo de água sequer. Já para não falar na refeição ligeira que tínhamos direito. Depois de mais um tempo de desespero, e já tendo passado em muito a hora de jantar, surge uma senhora a orientar-nos para um autocarro. Que íamos todos passar a noite no SANA Malhoa (valha-nos isso e não nos terem enfiado numa pensão daquelas onde se vai fazer o amor em quartos de hora). Alguém pergunta pelo jantar, afinal segundo a legislação a SATA teria que se responsabilizar em alimentar as pessoas para elas não desfalecerem. A senhora diz que o hotel não consegue disponibilizar jantar para tanta gente, por isso começa a distribuir uns papeizinhos com as indicações de como poderemos obter o reembolso do dinheiro que gastarmos no jantar, sendo que o teto máximo são 15 euros. Outra pessoa pergunta se haverão restaurantes abertos ao pé do hotel à hora que chegarmos. Pois que a senhora não sabe.

Depois de uma breve viagem de autocarro chegamos ao hotel. Os rececionistas fazem o melhor para despacharem a fila gigantesca que se forma, repleta de pessoas cansadas, com fome e com muita pouca vontade de sorrir. Informam que no dia a seguir poderemos usufruir do pequeno-almoço do hotel, que abre às 7, mas para termos atenção que o autocarro viria buscar-nos às 7.15 para nos levar ao aeroporto. Reviro os olhos por dentro já pensando na luta campal que será no momento em que as portas do restaurante abrirem. Quando recebo o cartão do quarto já são quase onze da noite. Mando vir umas pizzas para o quarto e entre chegarem e comer o relógio aproxima-se escandalosamente da uma da manhã.

Deito-me completamente estafado. Felizmente a cama é confortável, tal como o resto do quarto. Não vai ser difícil adormecer, mais complicado será acordar dali a meia dúzia de horas, mas pronto, o que tem de ser tem muita força. Antes de aterrar no mundo dos sonhos, um pensamento passa-me pela mente, que me faz franzir a testa. Tanta coisa e no fim não houve refeição ligeira da SATA para ninguém...

Hotel SANA Malhoa

Hospedar-me em 200 hotéis [2/200]

 

Copinho de Leite no Burguer King?

João Eating the World!, 21.03.25

Visitar mais de 100 países [4/100]

Se eu vos disser que bebi um copo de leite no Burguer King provavelmente vão achar que eu fumei qualquer erva aromática fora de prazo e comecei a alucinar. Ou que estou a armar-me em espertinho e afinal bebi um milkshake. Ou pior, que me tornei uma pessoa intragável e fiz um escândalo de todo o tamanho até me trocarem a Fanta de laranja por um 200 ml de leite meio gordo. Mas não, limitei-me a pedir um menu especial que vinha acompanhado de um copo de leite. E de tâmaras. E de chebakia.

Contextualizemos. Visitei Marrocos, mais especificamente Tânger, durante o Ramadão. Pelo facto do Islão se basear no calendário lunar, o Ramadão calha numa data diferente todos os anos, podendo durar entre 29 e 30 dias. Durante esse período os muçulmanos praticam um ritual de jejum, abstendo-se de comer, beber, fumar ou ter relações sexuais desde que o sol nasce até ao momento em que se põe.

Durante este período existem duas refeições-chave para quem está a jejuar: o Suhoor que é consumido antes do nascer do dia, e o Iftar (ou Ftour, termo mais utilizado em Marrocos), que permite quebrar o jejum depois do sol se por. E foi um menu especial de Ftour que encontrei no Burguer King por um preço muito, mas muito simpático.

Ftour Marrocos Burguer King

Por aproximadamente 7 euros tive direito a hambúrguer com bebida e batatas + um acompanhamento + um gelado + uma caixinha com tâmaras, chebakia (um doce à base de sésamo) e um copinho de leite.

Nunca na vida tinha pensado comer tal combinação no Burguer King, mas a verdade é que além do simbolismo existe uma vertente nutricional que simplesmente faz sentido. As tâmaras oferecem energia rápida, o leite hidrata e repõe nutrientes e a chebakia além de conferir um toque (extremamente) doce e festivo, concede imensas calorias. Por isso expectavelmente seriam as primeiras coisas a comer durante o Ftour, mas eu como bom turista desconhecedor comi no fim, já a rebolar de todo o resto da comida...

Por momentos quando pedi o menu pensei que poderia ser visto como uma ofensa cultural (hoje em dia nunca sabemos se inadvertidamente podemos ferir suscetibilidades), mas a jovem que me atendeu foi extremamente simpática. Lá consegui fazer o pedido com o meu francês rudimentar (sei dizer pain au chocolat e omelette du fromage e pouco mais) porque de árabe (por agora) não pesco nada (está na minha bucket list!) e no fim ainda recebi um voucher para um mês grátis de um serviço de streaming árabe. Confesso que no princípio não estava muito recetivo a ficar com tal oferenda, mas a moça desarmou-me com um sorriso e um "C'est gratuit".

Mal ela sabia que o meu problema não era tanto o preço, mas mais o medo do Henrique Feist saber que eu tinha vindo de férias para me meter no hotel a ver televisão e ainda ser achincalhado num qualquer podcast....

Ftour Burguer King Marrocos

 

 

I Wanna Destroy Festival da Canção

João Eating the World!, 09.03.25

Assistir à Eurovisão ao vivo [ainda não é desta]

Vá, vamos ser honestos. Independentemente do resultado do Festival da Canção, eu não iria assistir à Eurovisão ao vivo este ano, a não ser que o blogue ficasse famoso e eu ganhasse assim alto patrocínio para ir mandar postas de pescada sobre as atuações que por lá passassem. É que de outra forma o meu orçamento familiar não tem capacidade de comportar uma estadia na Suiça, mesmo que decidisse ir acampar no meio das montanhas e sobrevivesse à custa de sandes de atum trazidas de Portugal. Por isso NAPA, podem dormir descansados que não é por causa da vossa vitória que eu não vou lá acenar com uma bandeirinha tuga. É mesmo porque sou pobre.

Mas falemos dos fatídicos acontecimentos da final do Festival da Canção deste ano. Os NAPA ganharam com uma canção bonita. Se é canção para a Eurovisão, se não é, isso já são outros quinhentos, porque ao longo dos anos houve canções altamente eurovisivas com resultados péssimos e outras que até uma pessoa não dava nada por elas e ficaram muito bem qualificadas. Por isso, primeiro que tudo, parabéns NAPA e que façam um brilharete lá em Basileia.

Os NAPA receberam 10 pontos do voto do público (a segunda pontuação mais alta) o que mostra que as pessoas gostaram da canção. Claro que há sempre a teoria da conspiração que toda a Região Autónoma da Madeira votou em peso neles (os NAPA são de lá). Ora isso também não é crime nenhum, porque o público é livre de votar em quem gosta e em quem sente que o vai representar. Se as pessoas deviam votar em quem tem maior qualidade técnica? Talvez! Se as pessoas deviam votar em quem tem maior probabilidade de ter uma melhor pontuação na Eurovisão? Talvez! Se as pessoas são donas do seu dinheiro e votam em quem quiserem pelas razões que bem entenderem? Completamente!

Ora, presumo que tenha sido para balançar um pouco este voto público, por vezes mais apaixonado e menos técnico, que tenha sido instituído um voto do júri a valer 50% da pontuação final, apesar de, em caso de empate, o voto do público ser soberano. Mas é quando vamos ver o voto do júri que a porca torce o rabo.

Os 12 pontos do público foram para a Henka, que trouxe uma canção muito ao estilo da Bambie Thug em 2024 e a trazer algumas lembranças nostálgicas dos Lordi em 2006. Poderia não ser uma canção fácil de agradar ao estereótipo do ouvido português - afinal não era uma balada, nem um fado, nem sequer um pimba, mas sim uma combinação de electropop, rock industrial e  hyperpop - mas acabou por deixar a maioria dos votantes rendidos. Só que o júri não pareceu ficar apaixonado.

Os primeiros sinais de desgraça apareceram na semi-final, onde Henka foi escolhida para seguir em frente pelo público, e não pelo júri. Na votação final do júri o resultado foi desastroso. No polo oposto dos 12 pontos dados pelo público, Henka ficou com 0 pontos do júri. Não é que todos os júris regionais a tenham corrido a zero, mas a conversão final levou a que ficasse com esse desconsolador resultado. Coisa estranha porque se não foi convidada para participar, mas sim seleccionada, esperar-se-ia que a canção tivesse alguma qualidade logo à partida.

Pois bem, é verdade que se poderiam tecer longas considerações sobre as decisões tomadas pelo júri, mas a revolta não seria tão grande se não fossem os regionalismos que foram expresos nas votações. Vários júris deram a pontuação máxima a concorrentes da região pela qual estavam nomeados, muito provavelmente esquecendo-se de que serem nomeados por uma zona é ligeiramente diferente do que estarem a representar aquela região. Pode parecer apenas uma questão de semântica, mas é muito mais do que isso.

Novamente, todos sabemos que existem sempre questões políticas e geográficas e de afinidades neste tipo de concursos. Afinal somos todos seres humanos e por vezes não é fácil sermos completamente isentos. Mas um júri devia tentar ser o mais isento possível. Ou pelo menos não gritar aos ventos a sua falta de isenção.

E foi isso que a Bia Caboz, representante do júri da Região Autónoma da Madeira, fez. Talvez pela emoção do momento, talvez para encher chouriços e dar ali mais substrato à coisa, fez uma data de comentários enquanto ia atribuindo os votos. A cereja no topo do bolo foi dizer que, no momento de atribuir os 12 pontos, deixava de falar como porta-voz (do júri) e passava a falar com a voz do povo madeirense. Resultado: 12 pontos para os NAPA, banda madeirense. É que, e corrijam-me se estou errado, um júri não serve para falar com a voz do povo - para isso há o televoto - o júri é um conjunto de pessoas que conseguem fazer uma avaliação crítica o mais objetiva possível de forma a minimizar a subjetividade do gosto individual.

É uma porcaria - para não dizer uma palavra mais grosseira - quando em vez de sermos avaliados pelo nosso trabalho e talento, somos avaliados pelo nosso sexo, pela nossa expressão de género, pela nossa origem, pela nossa raça, etnia, orientação sexual, etc, etc, etc. E é uma porcaria ainda maior quando esse preconceito nos empurra para baixo, apenas por sermos quem somos. Mas o preconceito positivo também é uma porcaria muito grande. Principalmente para os outros - porque alguém foi priveligiado por uma característica que não devia entrar na análise -, mas também para nós, porque vamos ficar sempre com aquela dúvida existencial se realmente somos merecedores do local onde estamos.

Mas como na vida não podemos só encontrar problemas sem arranjar soluções, deixo aqui algumas sugestões para uma próxima edição do Festival da Canção:

  1. Refletir sobre o peso do voto do júri comparativamente com o do público. Visto que é o público que abre os cordões à bolsa, talvez o voto popular devesse valer entre 60 a 70%, ao contrários dos atuais 50%
  2. Acabar com o júri regional e trazer um júri global que seja representativo de várias áreas da indústria musical independentemente se são todos da Terceira ou de Mem Martins
  3. Trazer para a mesa, além do voto do júri e do público, o voto dos próprios concorrentes, onde cada um teria que votar nos preferidos entre os colegas

É verdade que o Festival da Canção é apenas o Festival da Canção, mas não nos podemos esquecer que além de usar dinheiros públicos deveria ser um reflexo da nossa forma de estar enquanto sociedade, onde a amizade e o sentimento de pertença pode ser expressado através do voto popular, mas onde o talento, a capacidade e o mérito deviam ter primazia no voto especializado.