Vade Retro SATA(Nás)!
Ou a mais breve viagem de avião da história...
Quando descobri uma viagem de ida e volta por 30 euros, pela SATA, para a ilha Terceira nos Açores, nem pensei duas vezes. Provavelmente deveria ter pensado um pouquinho melhor no assunto, porque apesar do voo estar baratíssimo, uma pessoa depois tem que ter dinheiro para pagar o hotel, e as refeições, e o aluguer do carro para se deslocar...mas como o voo até tinha incluído uma refeição ligeira, senti que umas coisas compensavam as outras, e também quantas vezes é que uma pessoa tem oportunidade de ir à Terceira? Afinal a única vez que tinha visitado a ilha fora há mais de 20 anos, por isso as minhas memórias já estavam para além de desatualizadas e fazia assim todo o sentido fazer a viagem. E foi isso que eu fiz. Ou melhor, foi isso que eu tentei fazer!
Chegado o dia da viagem, e após um ligeiro atraso na partida, eis que me vejo a sobrevoar os céus de Lisboa, rumo ao arquipélago dos Açores. Não tinham passado mais de 10 minutos quando o avião, em vez de seguir rumo ao oceano Atlântico, começa a fazer meia-volta, levando-me a duvidar se tinha havido uma reorganização do território que eu não me tivesse dado conta, e agora a Terceira ficasse no lago do Campo Grande. Mas não, visto que breves momentos depois é anunciado que devido a um problema técnico, que consistia em uma das portas do porão não ter ficado bem fechada, teríamos que voltar ao aeroporto de Lisboa. Naquele preciso instante comecei a entrar em pânico, a imaginar a minha mala em queda livre pelos céus da capital, sujeita a cair na cabeça de alguma alma azarada.... até que me lembrei que só tinha trazido bagagem de mão.
Aterrados em Lisboa, depois da mais breve viagem de avião da história, eis que começa todo o drama. Primeiro é-nos comunicado que iríamos voltar a viajar naquele avião, mas depois só que não, já que era preciso uma inspeção de pelo menos duas horas, o que não me fez muito sentido porque se o problema era uma porta da bagageira aberta, não era só fechar a mesma? Depois comunicam que vai haver um voo da TAP a voar para a Terceira no fim do dia e que poderão levar algumas das pessoas, mas não referem qual o critério de escolha! Sorteio? Cor dos olhos? Melhor sorriso para os hospedeiros? Caso fosse o preço do bilhete não teria qualquer hipótese de ser selecionado, tendo em conta os 30 euros que tinha pago. Depois de um bom tempo de espera começam a chamar pessoas, tipo bingo humano. Umas duas dezenas de pessoas arranjam bilhetes, as outras desgraçadas ficam ali sem saber bem o que se vai passar.
Mais tempo de espera. Mandam as pessoas fazer uma filinha sabe-se lá para que. Depois de toda a gente em fila dão ordem para irmos para a zona das bagagens, recolher as ditas cujas. Vai tudo ao monte, já que andar em filinha é coisa que se faz no máximo até ao quarto ano. Ficamos à espera que venham as bagagens que estavam no porão. Aparentemente não falta nenhuma, o que significa que não vai haver nenhum alerta CMTV sobre um chuva de cuecas e meias no Parque da Saúde. Esperamos mais um bocado. Ainda ninguém nos ofereceu um copo de água sequer. Já para não falar na refeição ligeira que tínhamos direito. Depois de mais um tempo de desespero, e já tendo passado em muito a hora de jantar, surge uma senhora a orientar-nos para um autocarro. Que íamos todos passar a noite no SANA Malhoa (valha-nos isso e não nos terem enfiado numa pensão daquelas onde se vai fazer o amor em quartos de hora). Alguém pergunta pelo jantar, afinal segundo a legislação a SATA teria que se responsabilizar em alimentar as pessoas para elas não desfalecerem. A senhora diz que o hotel não consegue disponibilizar jantar para tanta gente, por isso começa a distribuir uns papeizinhos com as indicações de como poderemos obter o reembolso do dinheiro que gastarmos no jantar, sendo que o teto máximo são 15 euros. Outra pessoa pergunta se haverão restaurantes abertos ao pé do hotel à hora que chegarmos. Pois que a senhora não sabe.
Depois de uma breve viagem de autocarro chegamos ao hotel. Os rececionistas fazem o melhor para despacharem a fila gigantesca que se forma, repleta de pessoas cansadas, com fome e com muita pouca vontade de sorrir. Informam que no dia a seguir poderemos usufruir do pequeno-almoço do hotel, que abre às 7, mas para termos atenção que o autocarro viria buscar-nos às 7.15 para nos levar ao aeroporto. Reviro os olhos por dentro já pensando na luta campal que será no momento em que as portas do restaurante abrirem. Quando recebo o cartão do quarto já são quase onze da noite. Mando vir umas pizzas para o quarto e entre chegarem e comer o relógio aproxima-se escandalosamente da uma da manhã.
Deito-me completamente estafado. Felizmente a cama é confortável, tal como o resto do quarto. Não vai ser difícil adormecer, mais complicado será acordar dali a meia dúzia de horas, mas pronto, o que tem de ser tem muita força. Antes de aterrar no mundo dos sonhos, um pensamento passa-me pela mente, que me faz franzir a testa. Tanta coisa e no fim não houve refeição ligeira da SATA para ninguém...
Hospedar-me em 200 hotéis [2/200]