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100 coisas a fazer antes de chegar aos 100 anos!

Uma fusão de bucket list a atirar para o futuro com um grupo de memórias desgarradas do passado e um polvilhado aleatório de acontecimento do dia a dia.

100 coisas a fazer antes de chegar aos 100 anos!

Uma fusão de bucket list a atirar para o futuro com um grupo de memórias desgarradas do passado e um polvilhado aleatório de acontecimento do dia a dia.

I Wanna Destroy Festival da Canção

João Eating the World!, 09.03.25

Assistir à Eurovisão ao vivo [ainda não é desta]

Vá, vamos ser honestos. Independentemente do resultado do Festival da Canção, eu não iria assistir à Eurovisão ao vivo este ano, a não ser que o blogue ficasse famoso e eu ganhasse assim alto patrocínio para ir mandar postas de pescada sobre as atuações que por lá passassem. É que de outra forma o meu orçamento familiar não tem capacidade de comportar uma estadia na Suiça, mesmo que decidisse ir acampar no meio das montanhas e sobrevivesse à custa de sandes de atum trazidas de Portugal. Por isso NAPA, podem dormir descansados que não é por causa da vossa vitória que eu não vou lá acenar com uma bandeirinha tuga. É mesmo porque sou pobre.

Mas falemos dos fatídicos acontecimentos da final do Festival da Canção deste ano. Os NAPA ganharam com uma canção bonita. Se é canção para a Eurovisão, se não é, isso já são outros quinhentos, porque ao longo dos anos houve canções altamente eurovisivas com resultados péssimos e outras que até uma pessoa não dava nada por elas e ficaram muito bem qualificadas. Por isso, primeiro que tudo, parabéns NAPA e que façam um brilharete lá em Basileia.

Os NAPA receberam 10 pontos do voto do público (a segunda pontuação mais alta) o que mostra que as pessoas gostaram da canção. Claro que há sempre a teoria da conspiração que toda a Região Autónoma da Madeira votou em peso neles (os NAPA são de lá). Ora isso também não é crime nenhum, porque o público é livre de votar em quem gosta e em quem sente que o vai representar. Se as pessoas deviam votar em quem tem maior qualidade técnica? Talvez! Se as pessoas deviam votar em quem tem maior probabilidade de ter uma melhor pontuação na Eurovisão? Talvez! Se as pessoas são donas do seu dinheiro e votam em quem quiserem pelas razões que bem entenderem? Completamente!

Ora, presumo que tenha sido para balançar um pouco este voto público, por vezes mais apaixonado e menos técnico, que tenha sido instituído um voto do júri a valer 50% da pontuação final, apesar de, em caso de empate, o voto do público ser soberano. Mas é quando vamos ver o voto do júri que a porca torce o rabo.

Os 12 pontos do público foram para a Henka, que trouxe uma canção muito ao estilo da Bambie Thug em 2024 e a trazer algumas lembranças nostálgicas dos Lordi em 2006. Poderia não ser uma canção fácil de agradar ao estereótipo do ouvido português - afinal não era uma balada, nem um fado, nem sequer um pimba, mas sim uma combinação de electropop, rock industrial e  hyperpop - mas acabou por deixar a maioria dos votantes rendidos. Só que o júri não pareceu ficar apaixonado.

Os primeiros sinais de desgraça apareceram na semi-final, onde Henka foi escolhida para seguir em frente pelo público, e não pelo júri. Na votação final do júri o resultado foi desastroso. No polo oposto dos 12 pontos dados pelo público, Henka ficou com 0 pontos do júri. Não é que todos os júris regionais a tenham corrido a zero, mas a conversão final levou a que ficasse com esse desconsolador resultado. Coisa estranha porque se não foi convidada para participar, mas sim seleccionada, esperar-se-ia que a canção tivesse alguma qualidade logo à partida.

Pois bem, é verdade que se poderiam tecer longas considerações sobre as decisões tomadas pelo júri, mas a revolta não seria tão grande se não fossem os regionalismos que foram expresos nas votações. Vários júris deram a pontuação máxima a concorrentes da região pela qual estavam nomeados, muito provavelmente esquecendo-se de que serem nomeados por uma zona é ligeiramente diferente do que estarem a representar aquela região. Pode parecer apenas uma questão de semântica, mas é muito mais do que isso.

Novamente, todos sabemos que existem sempre questões políticas e geográficas e de afinidades neste tipo de concursos. Afinal somos todos seres humanos e por vezes não é fácil sermos completamente isentos. Mas um júri devia tentar ser o mais isento possível. Ou pelo menos não gritar aos ventos a sua falta de isenção.

E foi isso que a Bia Caboz, representante do júri da Região Autónoma da Madeira, fez. Talvez pela emoção do momento, talvez para encher chouriços e dar ali mais substrato à coisa, fez uma data de comentários enquanto ia atribuindo os votos. A cereja no topo do bolo foi dizer que, no momento de atribuir os 12 pontos, deixava de falar como porta-voz (do júri) e passava a falar com a voz do povo madeirense. Resultado: 12 pontos para os NAPA, banda madeirense. É que, e corrijam-me se estou errado, um júri não serve para falar com a voz do povo - para isso há o televoto - o júri é um conjunto de pessoas que conseguem fazer uma avaliação crítica o mais objetiva possível de forma a minimizar a subjetividade do gosto individual.

É uma porcaria - para não dizer uma palavra mais grosseira - quando em vez de sermos avaliados pelo nosso trabalho e talento, somos avaliados pelo nosso sexo, pela nossa expressão de género, pela nossa origem, pela nossa raça, etnia, orientação sexual, etc, etc, etc. E é uma porcaria ainda maior quando esse preconceito nos empurra para baixo, apenas por sermos quem somos. Mas o preconceito positivo também é uma porcaria muito grande. Principalmente para os outros - porque alguém foi priveligiado por uma característica que não devia entrar na análise -, mas também para nós, porque vamos ficar sempre com aquela dúvida existencial se realmente somos merecedores do local onde estamos.

Mas como na vida não podemos só encontrar problemas sem arranjar soluções, deixo aqui algumas sugestões para uma próxima edição do Festival da Canção:

  1. Refletir sobre o peso do voto do júri comparativamente com o do público. Visto que é o público que abre os cordões à bolsa, talvez o voto popular devesse valer entre 60 a 70%, ao contrários dos atuais 50%
  2. Acabar com o júri regional e trazer um júri global que seja representativo de várias áreas da indústria musical independentemente se são todos da Terceira ou de Mem Martins
  3. Trazer para a mesa, além do voto do júri e do público, o voto dos próprios concorrentes, onde cada um teria que votar nos preferidos entre os colegas

É verdade que o Festival da Canção é apenas o Festival da Canção, mas não nos podemos esquecer que além de usar dinheiros públicos deveria ser um reflexo da nossa forma de estar enquanto sociedade, onde a amizade e o sentimento de pertença pode ser expressado através do voto popular, mas onde o talento, a capacidade e o mérito deviam ter primazia no voto especializado.

 

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