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100 coisas a fazer antes de chegar aos 100 anos!

Uma fusão de bucket list a atirar para o futuro com um grupo de memórias desgarradas do passado e um polvilhado aleatório de acontecimento do dia a dia.

100 coisas a fazer antes de chegar aos 100 anos!

Uma fusão de bucket list a atirar para o futuro com um grupo de memórias desgarradas do passado e um polvilhado aleatório de acontecimento do dia a dia.

Malta ou uma Chapada nos Pré-Conceitos Idadistas

João Eating the World!, 01.02.25

Visitar mais de 100 países [3/100]

Uma das coisas boas de uma pessoa não ter gozado todas as férias em 2024 é que, quando olha para os dias acumulados que tem para gastar em 2025, fica com uma excitação miúdinha a pensar que vai poder ir a todos aqueles destinos que sempre quis visitar e que ninguém lhe vai por a vista em cima no trabalho. Só que depois essa mesma pessoa lembra-se do ordenado que recebe e o entusiasmo fica assim um bocadinho mais resfriado, mas nada que não se possa contornar passando mês e meio a fazer a fotossíntese e a poupar nas compras do supermercado, ou, no meu caso, a identificar as melhores oportunidades de voos e hóteis.

E foi assim, ao encontrar um voo baratíssimo de ida e volta pela Ryanair, que decidi passar o fim de janeiro em Malta. Sim, eu bem sei que a Ryanair é Low-Cost e tem uma data de limitações, mas tendo em conta o meu orçamento sou muito capaz de prescindir de alguns luxos, e na verdade não é assim tão mau viajar com eles, basta seguir algumas regras de ouro. Primeiro, se viajarem acompanhados, não existe amizade ou amor ou laços familiares que valham os 8 euros que tem de pagar para irem em lugares juntinhos. Eu e o Cara-Metade ficamos separados por umas 15 filas e sobrevivemos às 3 horas de viagem, porque sejamos honestos, o mais provável era passarmos a maior parte do tempo a dormitar ou a olhar para o telemóvel (relação triste sem comunicação eu sei) e se o avião fosse para cair não era por estarmos agarradinhos que nos íamos safar. Assim poupámos um dinheirito que já deu para amortizar parte do valor do cartão para os transportes públicos de Malta que é caro que dói. Em segundo vão prevenidos com comes e bebes, porque os preços dos géneros alimentícios no avião são um verdadeiro roubo à mão-armada. Eu costumo sempre levar umas barritas ou uns frutos secos para o caso de me dar um ratito, e depois de passar o raio-x encho a minha garrafa com água num dos fontanários disponíveis. Em terceiro não sejam somíticos com a bagagem de mão. Normalmente o que eu faço com o Cara-Metade é comprarmos uma mala de mão extra para os dois, sendo que um de nós acaba por ter priority no boarding (ou seja, um de nós passa de pobre para pobre-premium), mas aproveitem esta dica e juntem-na logo que vos aparecer essa oportunidade no site ao fazerem a vossa compra. Se deixarem para o fim, vai-vos aparecer outra vez a oportunidade de juntar uma mala, mas o valor vai ser muito mais alto (pelo menos é o que me tem acontecido). A pior coisa que vos pode acontecer é acharem que estão a poupar uns euros e quando vão embarcar são convidados a verificarem se a vossa bagagem tem as medidas corretas. E caso não tenha, a conta vai ser salgada. Por fim, resistam às compras de impulso. Vão-vos acenar com comida, com perfumes, com raspadinhas!!!, mas o segredo é não fazerem contato visual para não se sentirem tentados a sacarem do cartão e a comprarem o último lipstick da Kylie Jenner.

Mas voltemos a Malta, que foi a razão deste post. Apesar de ter comprado a viagem e reservado o hótel com alguma antecedência, digamos que foi poucas horas antes do voo que me decidi preocupar com alguns detalhes, quiçá, importantes. Por exemplo, qual era o tempo que estava lá, se precisava de passaporte ou se bastava o cartão de cidadão e se por acaso tinha de levar algum adaptador para as tomadas.

Só posso aconselhar visitar Malta em janeiro, porque o tempo esteve fantástico, super agradável, com muito sol, e o número de turistas que andavam pelas ruas era razoável. Claro que o meu objetivo não tinha sido ir fazer praia, mas só de pensar na multidão que deve estar em julho e agosto quase que fico com um ataque de pânico. Outra coisa que gostei foi que começava a escurecer por volta das 17:30, e digo que gostei porque quando estive na Sérvia às 16.30 já era escuro como breu. De Portugal para Malta só precisei do cartão de cidadão, mas não posso deixar de recomendar que levem também o Cartão Europeu de Seguro de Doença. Agora o que me tramou foram as tomadas elétricas. Em Malta as tomadas são do tipo G, ou seja, aquelas de três pinos tal como existem no Reino Unido, por isso ia precisar de levar um adaptador. E a questão é que eu tinha um adaptador, só que a porcaria do bicho não permitia, devido a umas saliências do demónio que não se percebe porque é que lá foram postas, que eu conectasse a ficha do meu portátil, por ser bojuda demais. Ainda perdi uma boa hora a tentar encontrar soluções quando, após já estar suado de nervoso, decidi que ia confiar na sorte e se fosse preciso comprava um novo adaptador na ilha. No entanto os deuses sorriram-me e o hotel tinha uma ficha ao pé da cama que estava adaptada para os pobres europeus que usam fichas do tipo C.

Ora esta minha falta de planeamento, muito ao estilo de go with the flow, fez com que não percebesse que em Malta existem duas línguas oficiais, o Maltês e o Inglês. Por isso imaginem a minha cara quando, ao descansar num banquinho, uma senhora dos seus oitenta anos, mete conversa a falar inglês super correto, super fluido, a usar palavras que eu nem sabia que existiam. O meu primeiro pensamento foi que a senhora devia ter tido um emprego internacional ou coisa do género, porque todos sabemos que o pessoal mais velho não fala inglês, certo? Ou pelo menos é muitas vezes esse pré-conceito que temos na nossa cabeça, que as pessoas mais velhas não sabem línguas, que não conseguem mexer na tecnologia, que não podem fazer desporto e que, uma pessoa benze-se só de pensar, obviamente não fazem sexo e o máximo de interação intíma é um daqueles chochos sem língua. É quase como se nos tivessem implantado a ideia que as gerações mais velhas apenas servissem para jogar ao dominó e ver os programas da manhã.

Pois em Malta não houve idoso que encontrasse que não dominasse o inglês. Na rua, nos restaurantes, dentro dos autocarros, sempre que ouvia uma pessoa de idade a falar inglês ficava assim admirado, como se tivesse levado uma chapada de surpresa no meu pré-conceito idadista que podia jurar a pés juntos que não tinha. Achava eu que era uma pessoa progressista, mas visivelmente ainda tenho muito trabalho de desconstrução pela frente de forma a não considerar, mesmo que inconscientemente, que os outros são limitados só por causa da sua idade. E talvez um dia consiga imaginar, de uma forma natural, que aquela senhora de cabelos brancos, com artroses nos joelhos, que sobe lentamente as ruas com o seu carrinho de compras, ao chegar a casa vai por os pés de molho, colocar creme nas articulações e mimar-se com um vibrador de duas cabeças.

 

Fonte dos Tritões - Valetta

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