Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

100 coisas a fazer antes de chegar aos 100 anos!

Uma fusão de bucket list a atirar para o futuro com um grupo de memórias desgarradas do passado e um polvilhado aleatório de acontecimento do dia a dia.

100 coisas a fazer antes de chegar aos 100 anos!

Uma fusão de bucket list a atirar para o futuro com um grupo de memórias desgarradas do passado e um polvilhado aleatório de acontecimento do dia a dia.

Vade Retro SATA(Nás)!

Ou a mais breve viagem de avião da história...

João Eating the World!, 23.03.25

Quando descobri uma viagem de ida e volta por 30 euros, pela SATA, para a ilha Terceira nos Açores, nem pensei duas vezes. Provavelmente deveria ter pensado um pouquinho melhor no assunto, porque apesar do voo estar baratíssimo, uma pessoa depois tem que ter dinheiro para pagar o hotel, e as refeições, e o aluguer do carro para se deslocar...mas como o voo até tinha incluído uma refeição ligeira, senti que umas coisas compensavam as outras, e também quantas vezes é que uma pessoa tem oportunidade de ir à Terceira? Afinal a única vez que tinha visitado a ilha fora há mais de 20 anos, por isso as minhas memórias já estavam para além de desatualizadas e fazia assim todo o sentido fazer a viagem. E foi isso que eu fiz. Ou melhor, foi isso que eu tentei fazer!

Chegado o dia da viagem, e após um ligeiro atraso na partida, eis que me vejo a sobrevoar os céus de Lisboa, rumo ao arquipélago dos Açores. Não tinham passado mais de 10 minutos quando o avião, em vez de seguir rumo ao oceano Atlântico, começa a fazer meia-volta, levando-me a duvidar se tinha havido uma reorganização do território que eu não me tivesse dado conta, e agora a Terceira ficasse no lago do Campo Grande. Mas não, visto que breves momentos depois é anunciado que devido a um problema técnico, que consistia em uma das portas do porão não ter ficado bem fechada, teríamos que voltar ao aeroporto de Lisboa. Naquele preciso instante comecei a entrar em pânico, a imaginar a minha mala em queda livre pelos céus da capital, sujeita a cair na cabeça de alguma alma azarada.... até que me lembrei que só tinha trazido bagagem de mão.

Aterrados em Lisboa, depois da mais breve viagem de avião da história, eis que começa todo o drama. Primeiro é-nos comunicado que iríamos voltar a viajar naquele avião, mas depois só que não, já que era preciso uma inspeção de pelo menos duas horas, o que não me fez muito sentido porque se o problema era uma porta da bagageira aberta, não era só fechar a mesma? Depois comunicam que vai haver um voo da TAP a voar para a Terceira no fim do dia e que poderão levar algumas das pessoas, mas não referem qual o critério de escolha! Sorteio? Cor dos olhos? Melhor sorriso para os hospedeiros? Caso fosse o preço do bilhete não teria qualquer hipótese de ser selecionado, tendo em conta os 30 euros que tinha pago. Depois de um bom tempo de espera começam a chamar pessoas, tipo bingo humano. Umas duas dezenas de pessoas arranjam bilhetes, as outras desgraçadas ficam ali sem saber bem o que se vai passar.

Mais tempo de espera. Mandam as pessoas fazer uma filinha sabe-se lá para que. Depois de toda a gente em fila dão ordem para irmos para a zona das bagagens, recolher as ditas cujas. Vai tudo ao monte, já que andar em filinha é coisa que se faz no máximo até ao quarto ano. Ficamos à espera que venham as bagagens que estavam no porão. Aparentemente não falta nenhuma, o que significa que não vai haver nenhum alerta CMTV sobre um chuva de cuecas e meias no Parque da Saúde. Esperamos mais um bocado. Ainda ninguém nos ofereceu um copo de água sequer. Já para não falar na refeição ligeira que tínhamos direito. Depois de mais um tempo de desespero, e já tendo passado em muito a hora de jantar, surge uma senhora a orientar-nos para um autocarro. Que íamos todos passar a noite no SANA Malhoa (valha-nos isso e não nos terem enfiado numa pensão daquelas onde se vai fazer o amor em quartos de hora). Alguém pergunta pelo jantar, afinal segundo a legislação a SATA teria que se responsabilizar em alimentar as pessoas para elas não desfalecerem. A senhora diz que o hotel não consegue disponibilizar jantar para tanta gente, por isso começa a distribuir uns papeizinhos com as indicações de como poderemos obter o reembolso do dinheiro que gastarmos no jantar, sendo que o teto máximo são 15 euros. Outra pessoa pergunta se haverão restaurantes abertos ao pé do hotel à hora que chegarmos. Pois que a senhora não sabe.

Depois de uma breve viagem de autocarro chegamos ao hotel. Os rececionistas fazem o melhor para despacharem a fila gigantesca que se forma, repleta de pessoas cansadas, com fome e com muita pouca vontade de sorrir. Informam que no dia a seguir poderemos usufruir do pequeno-almoço do hotel, que abre às 7, mas para termos atenção que o autocarro viria buscar-nos às 7.15 para nos levar ao aeroporto. Reviro os olhos por dentro já pensando na luta campal que será no momento em que as portas do restaurante abrirem. Quando recebo o cartão do quarto já são quase onze da noite. Mando vir umas pizzas para o quarto e entre chegarem e comer o relógio aproxima-se escandalosamente da uma da manhã.

Deito-me completamente estafado. Felizmente a cama é confortável, tal como o resto do quarto. Não vai ser difícil adormecer, mais complicado será acordar dali a meia dúzia de horas, mas pronto, o que tem de ser tem muita força. Antes de aterrar no mundo dos sonhos, um pensamento passa-me pela mente, que me faz franzir a testa. Tanta coisa e no fim não houve refeição ligeira da SATA para ninguém...

Hotel SANA Malhoa

Hospedar-me em 200 hotéis [2/200]

 

Copinho de Leite no Burguer King?

João Eating the World!, 21.03.25

Visitar mais de 100 países [4/100]

Se eu vos disser que bebi um copo de leite no Burguer King provavelmente vão achar que eu fumei qualquer erva aromática fora de prazo e comecei a alucinar. Ou que estou a armar-me em espertinho e afinal bebi um milkshake. Ou pior, que me tornei uma pessoa intragável e fiz um escândalo de todo o tamanho até me trocarem a Fanta de laranja por um 200 ml de leite meio gordo. Mas não, limitei-me a pedir um menu especial que vinha acompanhado de um copo de leite. E de tâmaras. E de chebakia.

Contextualizemos. Visitei Marrocos, mais especificamente Tânger, durante o Ramadão. Pelo facto do Islão se basear no calendário lunar, o Ramadão calha numa data diferente todos os anos, podendo durar entre 29 e 30 dias. Durante esse período os muçulmanos praticam um ritual de jejum, abstendo-se de comer, beber, fumar ou ter relações sexuais desde que o sol nasce até ao momento em que se põe.

Durante este período existem duas refeições-chave para quem está a jejuar: o Suhoor que é consumido antes do nascer do dia, e o Iftar (ou Ftour, termo mais utilizado em Marrocos), que permite quebrar o jejum depois do sol se por. E foi um menu especial de Ftour que encontrei no Burguer King por um preço muito, mas muito simpático.

Ftour Marrocos Burguer King

Por aproximadamente 7 euros tive direito a hambúrguer com bebida e batatas + um acompanhamento + um gelado + uma caixinha com tâmaras, chebakia (um doce à base de sésamo) e um copinho de leite.

Nunca na vida tinha pensado comer tal combinação no Burguer King, mas a verdade é que além do simbolismo existe uma vertente nutricional que simplesmente faz sentido. As tâmaras oferecem energia rápida, o leite hidrata e repõe nutrientes e a chebakia além de conferir um toque (extremamente) doce e festivo, concede imensas calorias. Por isso expectavelmente seriam as primeiras coisas a comer durante o Ftour, mas eu como bom turista desconhecedor comi no fim, já a rebolar de todo o resto da comida...

Por momentos quando pedi o menu pensei que poderia ser visto como uma ofensa cultural (hoje em dia nunca sabemos se inadvertidamente podemos ferir suscetibilidades), mas a jovem que me atendeu foi extremamente simpática. Lá consegui fazer o pedido com o meu francês rudimentar (sei dizer pain au chocolat e omelette du fromage e pouco mais) porque de árabe (por agora) não pesco nada (está na minha bucket list!) e no fim ainda recebi um voucher para um mês grátis de um serviço de streaming árabe. Confesso que no princípio não estava muito recetivo a ficar com tal oferenda, mas a moça desarmou-me com um sorriso e um "C'est gratuit".

Mal ela sabia que o meu problema não era tanto o preço, mas mais o medo do Henrique Feist saber que eu tinha vindo de férias para me meter no hotel a ver televisão e ainda ser achincalhado num qualquer podcast....

Ftour Burguer King Marrocos

 

 

Malta ou uma Chapada nos Pré-Conceitos Idadistas

João Eating the World!, 01.02.25

Visitar mais de 100 países [3/100]

Uma das coisas boas de uma pessoa não ter gozado todas as férias em 2024 é que, quando olha para os dias acumulados que tem para gastar em 2025, fica com uma excitação miúdinha a pensar que vai poder ir a todos aqueles destinos que sempre quis visitar e que ninguém lhe vai por a vista em cima no trabalho. Só que depois essa mesma pessoa lembra-se do ordenado que recebe e o entusiasmo fica assim um bocadinho mais resfriado, mas nada que não se possa contornar passando mês e meio a fazer a fotossíntese e a poupar nas compras do supermercado, ou, no meu caso, a identificar as melhores oportunidades de voos e hóteis.

E foi assim, ao encontrar um voo baratíssimo de ida e volta pela Ryanair, que decidi passar o fim de janeiro em Malta. Sim, eu bem sei que a Ryanair é Low-Cost e tem uma data de limitações, mas tendo em conta o meu orçamento sou muito capaz de prescindir de alguns luxos, e na verdade não é assim tão mau viajar com eles, basta seguir algumas regras de ouro. Primeiro, se viajarem acompanhados, não existe amizade ou amor ou laços familiares que valham os 8 euros que tem de pagar para irem em lugares juntinhos. Eu e o Cara-Metade ficamos separados por umas 15 filas e sobrevivemos às 3 horas de viagem, porque sejamos honestos, o mais provável era passarmos a maior parte do tempo a dormitar ou a olhar para o telemóvel (relação triste sem comunicação eu sei) e se o avião fosse para cair não era por estarmos agarradinhos que nos íamos safar. Assim poupámos um dinheirito que já deu para amortizar parte do valor do cartão para os transportes públicos de Malta que é caro que dói. Em segundo vão prevenidos com comes e bebes, porque os preços dos géneros alimentícios no avião são um verdadeiro roubo à mão-armada. Eu costumo sempre levar umas barritas ou uns frutos secos para o caso de me dar um ratito, e depois de passar o raio-x encho a minha garrafa com água num dos fontanários disponíveis. Em terceiro não sejam somíticos com a bagagem de mão. Normalmente o que eu faço com o Cara-Metade é comprarmos uma mala de mão extra para os dois, sendo que um de nós acaba por ter priority no boarding (ou seja, um de nós passa de pobre para pobre-premium), mas aproveitem esta dica e juntem-na logo que vos aparecer essa oportunidade no site ao fazerem a vossa compra. Se deixarem para o fim, vai-vos aparecer outra vez a oportunidade de juntar uma mala, mas o valor vai ser muito mais alto (pelo menos é o que me tem acontecido). A pior coisa que vos pode acontecer é acharem que estão a poupar uns euros e quando vão embarcar são convidados a verificarem se a vossa bagagem tem as medidas corretas. E caso não tenha, a conta vai ser salgada. Por fim, resistam às compras de impulso. Vão-vos acenar com comida, com perfumes, com raspadinhas!!!, mas o segredo é não fazerem contato visual para não se sentirem tentados a sacarem do cartão e a comprarem o último lipstick da Kylie Jenner.

Mas voltemos a Malta, que foi a razão deste post. Apesar de ter comprado a viagem e reservado o hótel com alguma antecedência, digamos que foi poucas horas antes do voo que me decidi preocupar com alguns detalhes, quiçá, importantes. Por exemplo, qual era o tempo que estava lá, se precisava de passaporte ou se bastava o cartão de cidadão e se por acaso tinha de levar algum adaptador para as tomadas.

Só posso aconselhar visitar Malta em janeiro, porque o tempo esteve fantástico, super agradável, com muito sol, e o número de turistas que andavam pelas ruas era razoável. Claro que o meu objetivo não tinha sido ir fazer praia, mas só de pensar na multidão que deve estar em julho e agosto quase que fico com um ataque de pânico. Outra coisa que gostei foi que começava a escurecer por volta das 17:30, e digo que gostei porque quando estive na Sérvia às 16.30 já era escuro como breu. De Portugal para Malta só precisei do cartão de cidadão, mas não posso deixar de recomendar que levem também o Cartão Europeu de Seguro de Doença. Agora o que me tramou foram as tomadas elétricas. Em Malta as tomadas são do tipo G, ou seja, aquelas de três pinos tal como existem no Reino Unido, por isso ia precisar de levar um adaptador. E a questão é que eu tinha um adaptador, só que a porcaria do bicho não permitia, devido a umas saliências do demónio que não se percebe porque é que lá foram postas, que eu conectasse a ficha do meu portátil, por ser bojuda demais. Ainda perdi uma boa hora a tentar encontrar soluções quando, após já estar suado de nervoso, decidi que ia confiar na sorte e se fosse preciso comprava um novo adaptador na ilha. No entanto os deuses sorriram-me e o hotel tinha uma ficha ao pé da cama que estava adaptada para os pobres europeus que usam fichas do tipo C.

Ora esta minha falta de planeamento, muito ao estilo de go with the flow, fez com que não percebesse que em Malta existem duas línguas oficiais, o Maltês e o Inglês. Por isso imaginem a minha cara quando, ao descansar num banquinho, uma senhora dos seus oitenta anos, mete conversa a falar inglês super correto, super fluido, a usar palavras que eu nem sabia que existiam. O meu primeiro pensamento foi que a senhora devia ter tido um emprego internacional ou coisa do género, porque todos sabemos que o pessoal mais velho não fala inglês, certo? Ou pelo menos é muitas vezes esse pré-conceito que temos na nossa cabeça, que as pessoas mais velhas não sabem línguas, que não conseguem mexer na tecnologia, que não podem fazer desporto e que, uma pessoa benze-se só de pensar, obviamente não fazem sexo e o máximo de interação intíma é um daqueles chochos sem língua. É quase como se nos tivessem implantado a ideia que as gerações mais velhas apenas servissem para jogar ao dominó e ver os programas da manhã.

Pois em Malta não houve idoso que encontrasse que não dominasse o inglês. Na rua, nos restaurantes, dentro dos autocarros, sempre que ouvia uma pessoa de idade a falar inglês ficava assim admirado, como se tivesse levado uma chapada de surpresa no meu pré-conceito idadista que podia jurar a pés juntos que não tinha. Achava eu que era uma pessoa progressista, mas visivelmente ainda tenho muito trabalho de desconstrução pela frente de forma a não considerar, mesmo que inconscientemente, que os outros são limitados só por causa da sua idade. E talvez um dia consiga imaginar, de uma forma natural, que aquela senhora de cabelos brancos, com artroses nos joelhos, que sobe lentamente as ruas com o seu carrinho de compras, ao chegar a casa vai por os pés de molho, colocar creme nas articulações e mimar-se com um vibrador de duas cabeças.

 

Fonte dos Tritões - Valetta

É Tur...É Turbu...É Turbulência!

João Eating the World!, 24.01.25

Visitar mais de 100 países [2/100]

Este post poderia ser acerca de Belgrado, capital da Sérvia e último país do meu périplo de 2024 pelos mercadinhos de Natal. Poderia ser uma reflexão sobre como foi uma cidade que não me encantou, talvez por a ter sentido brutalista como a sua arquitectura, apesar de ter das igrejas mais maravilhosas que alguma vez vi (uma pessoa entra nelas e quase que tem de apanhar o queixo do chão); ou pelo facto do sistema de transportes públicos me ter deixado à beira de um esgotamento nervoso, pese embora tenha-me dado a conhecer o Fuze Tea de Frutos do Bosque, uma das coisas mais maravilhosas que levei à boca nos últimos tempos.

Belgrado

Belgrado

Mas não, este post é sobre como quase morri a voltar de Belgrado pela Air Serbia, companhia que nunca na vida suspeitara que fizesse voos diretos para Lisboa.

Para vos dar contexto, esta minha viagem aos mercados de Natal aconteceu sensivelmente duas semanas após a minha segunda operação, e digamos que não foi consensual, visto que a minha família achou que era cedo demais para viajar, apesar da minha médica ter dado uma luz (semi)verde, desde que não passasse o voo todo sentado e adotasse medidas que minimizassem o risco de um possível tromboembolismo. Ora, como a minha primeira operação deixou-me sem ir ao Sri Lanka (sei que já contei isto no post sobre a minha ida para a Áustria, mas é para verem como fiquei traumatizado) recusei-me terminantemente a ficar em casa e lá fui eu munido de meias de compressão e uma vontade louca de fazer exercício a bordo do avião.

E foi com as mesmas meias de compressão calçadas que, a meio da viagem de regresso a Lisboa, a minha vontade de fazer exercício, aliada à minha bexiga do tamanho de uma noz, fez com que me levantasse para ir à casa-de-banho. Depois de fazer o que tinha a fazer (acho que não preciso de vos dar detalhes) decidi ficar no fundo do avião a fazer uns exercícios, já que os carrinhos dos comes e bebes tinham começado a circular e impediam a passagem de pessoas com pandeiros do tamanho do meu.

Todo eu dei uma classe de ginástica no fundo daquele avião. Foram uns bons 20 minutos a alongar pernas, a esticar braços, a levar joelhos ao peito (ou a tentar levar joelhos ao peito), a rodar ombros, a dizer que sim e que não e que talvez e que nem pensar com a cabeça... basicamente tinha tudo para ser um segmento da Praça da Alegria, daqueles do vamos fazer exercícios com uma cadeira e um pacote de arroz carolino.

Ora depois de ter queimado umas boas calorias, vi que o carrinho dos comes e bebes tinha passado finalmente pelo meu lugar e fui, todo ufano e ligeiramente suado, sentar-me.

Minha gente, não tinham passado sequer dois minutos quando o avião sacudiu de uma forma indescritível, que me fez o cu levantar do assento. E não foi apenas um solavanco, foram intermináveis segundo de uma turbulência como eu nunca tinha sentido. Voaram bebidas para cima de passageiros aterrorizados, os comissários de bordo correram a sentar-se no braço da cadeira mais próxima abandonando as sandes de mortadela e, para horror dos horrores, abriram-se compartimentos da bagagem de mão. Na verdade abriu-se um compartimento, que era exatamente aquele que estava apontado à minha cabeça, e nesse momento só imaginei o meu epitáfio: "Aqui Jaz João, que morreu depois de ter levado com uma mala da Samsonite na cabeça".

Felizmente a turbulência não durou muito e, tirando as nódoas de coca-cola, não houve estragos a contabilizar. Mas não pude deixar de pensar - E se no momento da turbulência ainda estivesse em pé a fazer os exercícios? E se no preciso exato momento em que estivesse a dobrar o joelho, agarrando o pé para que ele tocasse na nádega, o avião tivesse sacudido todo? O mais certo era ter sido arremessado contra o teto do avião, ou ter-me espatifado contra as cadeiras da frente. A realidade é que por questão de escassos minutos fintei uma possível morte certa e uma definitiva aparição num alerta CM.

Foi com este pensamento em mente que me mantive colado à cadeira durante o resto do voo, ignorando o facto da minha bexiga estar novamente cheia, mas fazendo a cada dez minutos uns ligeiros exerxícios com os pés e com as pernas para ativar a circulação sanguínea. É que se não tinha morrido da turbulência também não ia morrer de um tromboembolismo!